Em 2009 a Editora Oxford University Press publicou o livro Justice: What's the right thing to do?, escrito pelo professor Michael J. Sandel - doutor por Oxford e professor da cadeira que dá nome ao livro em Harvard. A obra nos convida a uma mirada à filosofia política, indo muito além do estudo de decisões judiciais. Com efeito, o objetivo do livro é explicar como a ética deve conduzir, adequadamente, toda a conduta pública em suas diferentes facetas e como a ética se manifesta em razão prática e justifica a conduta das forças públicas em suas tomadas de decisão.
“No verão de 2004, o furacão Charley pôs-se a rugir no Golfo do México e varreu a Flórida até o Oceano Atlântico. A tempestade, que levou 22 vidas e causou prejuízos de 11 bilhões de dólares, deixou também em seu rastro uma discussão sobre preços extorsivos”. Assim o Professor Sandel inicia o primeiro capítulo de sua obra, recorrendo à clássica metodologia utilizada em salas americanas: o case method. Ao longo do livro, diversas situações extremas - reais e hipotéticas - são apresentadas aos leitores a partir de complexas reflexões morais.
Imagine que você é o maquinista de um trem e a sua frente há cinco operários trabalhando, sua única chance de salvar os cinco é desviar para outro caminho onde há apenas um funcionário. Para muitos, a resposta é óbvia: seguir pela tragédia menor matando apenas um homem. Agora, imagine que você é um espectador acima dos trilhos em uma ponte, o trem está prestes a atingir cinco operários, até você notar um homem corpulento ao seu lado, caso o jogue sobre os trilhos, o trem irá parar e apenas uma pessoa terá morrido. O resultado em número de vidas ainda é o mesmo, mas o peso da mudança é totalmente diferente. Qual a coisa certa a se fazer?
Em um primeiro momento, não é algo evidente, mas as decisões nas diversas ocasiões de reflexão apresentadas por Sandel nos levam a fazer escolhas que podem ter sido influenciadas ou alinhadas a visões éticas já propostas por intelectuais, como o utilitarismo de Bentham e Mill; o racionalismo de Kant e seus imperativos categóricos; o liberalismo igualitário de Rawls e seu véu da ignorância; ou ainda, o libertarianismo de Nozick e sua defesa irrestrita da liberdade.
Trata-se de uma verdadeira jornada por entre as diferentes perspectivas da razão prática, culminando na opinião pessoal do Professor Michael, baseada na ética clássica aristotélica que deu as bases para a chamada visão comunitarista. Ainda que o leitor discorde do escritor, esta cartografia da filosofia política certamente contribuirá para o desenvolvimento de suas próprias conclusões e afinidades.
Boa leitura!
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